A saúde mental representa um dos maiores desafios de saúde pública no século XXI. As transformações sociais, os impactos da pandemia, as exigências do mercado de trabalho e o uso excessivo de tecnologias contribuem para o aumento de transtornos mentais em todas as faixas etárias. Este artigo científico analisa a evolução conceitual da saúde mental, os principais transtornos mentais, as abordagens terapêuticas atuais e a importância da prevenção e promoção da saúde emocional. Além disso, discute o papel da enfermagem, dos profissionais multiprofissionais e das políticas públicas no enfrentamento dessas questões, com foco na atenção psicossocial.
A saúde mental é um componente essencial do bem-estar humano e da qualidade de vida. Ela abrange aspectos emocionais, psicológicos e sociais, influenciando diretamente a forma como as pessoas pensam, sentem e se comportam. Embora o tema tenha ganhado maior visibilidade nos últimos anos, o estigma, a desinformação e a insuficiência dos serviços ainda são grandes barreiras ao cuidado adequado.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 970 milhões de pessoas vivem com algum transtorno mental, sendo a depressão e os transtornos de ansiedade os mais prevalentes. No Brasil, cerca de 23% da população já apresentou sinais de sofrimento mental, o que demanda políticas públicas consistentes e uma rede de apoio multiprofissional robusta.
Conceito e evolução da saúde mental
Ao longo da história, o conceito de saúde mental passou por transformações significativas. Inicialmente associada à loucura ou desvios de comportamento, hoje é compreendida como um estado de equilíbrio que permite enfrentar as tensões da vida, trabalhar produtivamente e contribuir com a comunidade.
A psiquiatria tradicional, centrada no modelo biomédico e hospitalocêntrico, vem sendo substituída por uma abordagem psicossocial e comunitária. Esta mudança está ancorada em marcos legais como a Lei 10.216/2001, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica no Brasil.
Principais transtornos mentais
A Classificação Internacional de Doenças (CID-11) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) são as principais referências para a identificação de transtornos mentais. Entre os mais comuns estão:
Depressão: caracteriza-se por tristeza persistente, perda de interesse, alterações no sono, apetite e autoestima.
Ansiedade generalizada: envolve preocupação excessiva, tensão muscular, fadiga e dificuldade de concentração.
Transtorno bipolar: oscilações de humor entre mania (euforia, impulsividade) e depressão.
Esquizofrenia: distorções da realidade, delírios e alucinações.
Transtornos de personalidade: padrões duradouros de comportamento e experiências internas inflexíveis.
Transtornos alimentares: como anorexia, bulimia e compulsão alimentar.
Esses transtornos afetam negativamente a funcionalidade do indivíduo e exigem avaliação clínica e acompanhamento multiprofissional.

Abordagens terapêuticas e estratégias de cuidado
Intervenções farmacológicas
Os psicofármacos, como antidepressivos, ansiolíticos, antipsicóticos e estabilizadores de humor, são utilizados no tratamento de diversos transtornos. Devem ser prescritos por médicos e acompanhados de forma rigorosa para evitar efeitos colaterais e dependência.
Psicoterapia
A psicoterapia é um pilar essencial da reabilitação. As abordagens mais utilizadas incluem:
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
Psicanálise
Terapia Sistêmica
Terapia de Aceitação e Compromisso
Cada técnica visa reestruturar pensamentos, sentimentos e comportamentos disfuncionais.
Apoio psicossocial
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), implantada no Brasil, inclui os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), consultórios na rua, residências terapêuticas e Unidades Básicas de Saúde. Essa rede promove o cuidado em liberdade e a reinserção social de pessoas com transtornos mentais.
Fatores que impactam a saúde mental
Diversos fatores estão associados ao surgimento de sofrimento psíquico:
Fatores biológicos: predisposição genética, desequilíbrios neuroquímicos.
Fatores psicossociais: violência, desemprego, isolamento, luto.
Ambiente digital: uso excessivo de redes sociais pode causar comparação social, baixa autoestima e ansiedade.
Crises coletivas: pandemia de COVID-19, catástrofes, guerras.
A inter-relação entre esses fatores demonstra a necessidade de um cuidado multidimensional.
Promoção da saúde mental e prevenção de agravos
A promoção da saúde mental envolve ações educativas, sociais e ambientais que visam fortalecer os fatores protetores e reduzir os riscos. Entre as estratégias destacam-se:
Educação emocional nas escolas
Grupos de apoio comunitário
Valorização da escuta ativa nos serviços de saúde
Práticas integrativas (meditação, arteterapia, acupuntura)
Exercícios físicos e alimentação saudável
Prevenir o sofrimento mental exige intervenções contínuas e integradas com a realidade do indivíduo.
O papel dos profissionais de saúde
6.1. Enfermeiros
O enfermeiro atua na triagem, acolhimento, escuta ativa e acompanhamento de pacientes com transtornos mentais. Desenvolve planos de cuidado, identifica sinais de risco e promove ações educativas.
Psicólogos, médicos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais
Esses profissionais compõem a equipe multiprofissional que sustenta a RAPS. Sua atuação conjunta garante o atendimento integral, centrado no sujeito.
Políticas públicas e desafios do sistema
A Política Nacional de Saúde Mental no Brasil tem como princípio o cuidado em liberdade, o respeito aos direitos humanos e a reintegração social. No entanto, ainda enfrenta desafios como:
Subfinanciamento da saúde mental
Falta de profissionais qualificados
Desarticulação entre os serviços
Preconceito estrutural
A ampliação de investimentos e a formação continuada dos profissionais são urgentes para garantir o acesso universal e humanizado ao cuidado mental.
A saúde mental é um campo complexo e prioritário da saúde coletiva. Sua compreensão e cuidado exigem abordagem multiprofissional, políticas públicas efetivas e, acima de tudo, uma mudança cultural que rompa com o estigma. Fortalecer a promoção da saúde emocional, ampliar a rede de apoio e capacitar profissionais são estratégias fundamentais para enfrentar o crescente adoecimento mental na sociedade contemporânea.
FAQ – Perguntas Frequentes sobre Saúde Mental
1. O que é saúde mental?
É o estado de equilíbrio emocional e psicológico que permite ao indivíduo lidar com os desafios da vida, trabalhar, ter relações saudáveis e realizar seu potencial.
2. Como saber se estou com um transtorno mental?
Mudanças persistentes de humor, perda de interesse por atividades, insônia, ansiedade constante, isolamento e pensamentos negativos recorrentes podem indicar sofrimento mental. Um profissional deve ser consultado.
3. O que é a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)?
É o conjunto de serviços do SUS que oferece cuidado em saúde mental, como CAPS, ambulatórios, UBS e residências terapêuticas.
4. Psicoterapia é melhor que medicação?
São abordagens complementares. Em muitos casos, o uso de medicamentos aliado à psicoterapia é mais eficaz do que um único tratamento.
5. Como combater o estigma sobre saúde mental?
Através da informação, educação, empatia e incentivo ao diálogo aberto sobre sentimentos e emoções.
6. Quais práticas podem melhorar a saúde mental no dia a dia?
Atividades físicas, sono regular, alimentação saudável, redução do tempo de tela, meditação e convívio social saudável ajudam na prevenção.
7. Quem pode procurar um CAPS?
Qualquer pessoa em sofrimento psíquico intenso ou com transtorno mental pode procurar o CAPS de sua região, com ou sem encaminhamento.